"A história é a filosofia inspirada nos exemplos."
Dionísio de Halicarnasso

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

José Gregório Marques

José Gregório Marques foi um advogado e juiz federal nascido em Itambacuri, no dia 1 de junho de 1937. 

Em sua cidade natal, era conhecido pelo apelido “Piúca”. Seus pais eram José Marques de Oliveira e Maria Clotilde Nogueira. 

Era casado com Maria Teresa Moreno Marques e juntos tiveram três filhos.

Morou em Itambacuri até o término do ensino fundamental. Entrou para o seminário da Ordem dos Capuchinhos a 16 de fevereiro de 1948, em Santa Teresa. 


Posteriormente seguiu para Taubaté – SP, onde os estudos de formação sacerdotal com o nome de noviciado tinham continuidade. Na época, era chamado de frei Mauro de Itambacuri.

Piúca não chegou a ser ordenado padre. Pediu dispensa de votos (liberação do seminário) no dia 26 de setembro de 1955. Deixou o seminário a 15 de dezembro do mesmo ano e mudou-se para Belo Horizonte, onde fez curso de Direito na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

Enquanto cursava a faculdade trabalhou no Hotel Normandy - entre abril de 1956 e agosto de 1958. Depois, trabalhou no setor de vendas da empresa Olivetti. Após a formatura voltou para Itambacuri, onde morou por um breve período. 

Piúca (o primeiro do lado direito) entre colegas.
 Retornou para Belo Horizonte com o intuito de prestar concurso para o Ministério Público. Alguns de seus colegas da UFMG também tiveram projeção na carreira jurídica. Um deles é Sepúlveda Pertence, ex-presidente do STF.

José Gregório Marques tomou posse como promotor público em 1962. Foi também professor na Fundação Educacional Monsenhor Messias, em Sete Lagoas. 

Casou-se com Maria Teresa Moreno Marques em 1963, ano em que foi transferido para Areado, que na época era distrito de Alfenas. Em 1964 nasceu seu primeiro filho: Marco Túlio.

Já em 1969 foi transferido para Congonhas, mas morava em Belo Horizonte. Nesse mesmo ano nasceu seu segundo filho: Marcus Vinicius. Em 1972 nasceu a filha caçula Cláudia, em Belo Horizonte.

Em 1975 prestou concurso para juiz federal e passou em segundo lugar, posição que lhe permitiu optar por assumir o cargo em Belo Horizonte. Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1976. Trabalhou como juiz federal criminal substituto na 4ª Vara Federal do Rio de Janeiro e como titular na 7ª.

Aposentou-se no ano de 1982. Enquanto foi juiz federal, substituiu juízes nas cidades de Manaus e Florianópolis. 

Após a aposentadoria, decorrido o período de quarentena exigido por lei, passou a trabalhar como advogado e se especializou em Direito Administrativo. Abriu então um escritório de advocacia junto com sua esposa, Maria Teresa, no Rio de Janeiro.

Seus dois filhos mais velhos também se formaram em Direito e foram trabalhar com o pai. Os filhos ajudaram a ampliar as atividades do escritório Marques de Oliveira Advogados Associados para outras áreas do Direito.  Já a filha, Cláudia, é formada em odontologia.

Piúca era famoso por seu jeito alegre de ser. Era um piadista inteligente e brincalhão, muito querido pelos parentes, amigos e colegas de trabalho. Ele adorava contar casos sobre sua infância e tinha o costume de “aumentar um pouquinho” para tornar a estória mais interessante.

Gostava muito de viajar, principalmente para Paris e cidades do interior da França. Admirava vinhos. Era fã de futebol e torcedor do Botafogo.  Algumas de suas atividades favoritas eram contar casos e jogar baralho.

José Gregório Marques, o Piúca, ou o Greg, faleceu em 31 de maio de 2009, junto com sua esposa, vítimas do acidente aéreo do vôo 447 da companhia Air France. Piúca e Teresa deixaram três filhos e quatro netos.

A seguir, registra-se um “causo” escrito por ele, narrando algumas passagens de sua infância. 

Piúca, à direita, em frente ao frei Agostinho.
Nasci em Itambacuri - MG, cidadezinha do nordeste mineiro que, à época de minha infância, devia contar de 2.000 a 3.000 habitantes. 

Era uma cidade-comunidade, fundada por frades capuchinhos italianos em 1873, cujos sucessores ainda mantinham e, acho que mantêm, severa vigilância sobre os costumes dos itambacurienses que, atualmente, devem estar na casa dos 12.000. 

Todos na cidade têm apelido e somente são conhecidos pelo apelido - a ponto de nas lápides do cemitério constarem os nomes verdadeiros e os apelidos dos que ali estão enterrados, a fim de ser facilitada a identificação dos mesmos. Meu apelido é Piúca. Mais tarde, Dr. Piúca. 

Como já disse, minha memória era e é fabulosa. Aos 6 anos de idade sabia de cor todos os números das casas de  Itambacuri, de modo que, ao perambular pelas ruas da cidade, sempre era inquirido pelas pessoas, geralmente os mais velhos, em voz  alta, quase gritada: “Piúca, qual é o número da casa de Fulano? De Beltrano? E de Sicrano?” Sempre respondia com firmeza, às vezes depois de pensar um pouco, o número certo.

Confesso, agora, que as respostas não eram sempre produto só da memória privilegiada, mas também do meu raciocínio, pois os números das casas em Itambacuri seguiam a numeração normal de 1 em 1, sendo os  números  ímpares  para   as  casas  do lado esquerdo e  os  pares  para  as  casas  do lado direito, o que  me ajudava. 

Mesmo não me recordando exatamente do número da casa solicitado, podia memorizar   e  contar quantas casas faltavam a contar de uma das casas de pessoas importantes, cujo  número nunca me esquecia. 

Tal memória me proporcionou, no entanto, aos 7 anos de idade, a praticar minha  primeira “fraude intelectual” que chegou a balançar os alicerces da fé católica das  freiras do Colégio Santa Clara. 

Em 1944, quando contava apenas 6 anos e 6 meses de idade, fui impedido de  me matricular  no 1º ano primário  do Colégio Santa Clara  porque somente  os  maiores  de 7 anos  podiam fazê-lo. 

Foi necessária a intervenção de meus pais junto à Madre Superiora do Colégio, provando que eu já sabia ler e escrever, e que seria desperdício continuar sem estudar. 

Logo que as aulas se iniciaram fui colocado entre os alunos repetentes ou mais  adiantados, porque já sabia ler e escrever, o que me dava condições, caso fosse  possível, de iniciar meu curso primário pelo 2º ano. 

Em vista disso, como tinha muita facilidade para fazer os deveres de casa e para aprender tudo que nos era ensinado na classe, via em meus boletins uma quantidade  enorme  de 10, o que  fazia  com que meu pai, muito vaidoso e orgulhoso do sucesso  do filho, fingisse que não tinha caneta-tinteiro, ou qualquer outra caneta,  para assinar mensalmente os boletins.

Ele sempre se dirigia à farmácia próxima de nossa casa - lugar de bate-papo e de  reunião de muitos fazendeiros e desocupados - e pedia emprestada uma caneta para  assinar os boletins na presença de todos e melhor exibir as notas atinentes ao aproveitamento escolar do filho.

Desde que aprendi a ler, sempre gostei de livros, mesmo didáticos. No primeiro ano primário, depois dos livros de aprendizado de leitura “O Livro de Lili” e “A Bonequinha Preta”, dos  quais  fui dispensado  porque  já  sabia  ler  e  estava  entre  os  alunos  repetentes, havia  o livro de  leitura para o 1º ano adiantado  que  se  chamava “Primeiro Livro de  Leitura - Edições  Melhoramentos”.

Por volta do mês de outubro de 1944, de tanto ler e relatar todas as estórias de tal livro, sabia  de  cor  todas  elas, como também  me  recordava de todas as figuras e desenhos    que as ilustravam. 

Na sala de aulas do 1º ano também eram dadas pela manhã as aulas para o terceiro ano ginasial. Uma aluna esqueceu dentro da carteira em que eu me assentava o livro de  leitura em francês, que  nada  mais  era do que o Premier Livre de Lecture – Edições  Melhoramentos, que continha todas as leituras e estórias de seu homônimo em português. 

Durante a aula, que era dada por uma das estagiárias formadas naquele ano, fui apanhado folheando sorrateiramente o livro em francês. Lembro-me que em uma das  páginas abertas do livro a leitura era “Le Cheval Blanc”, cuja gravura coincidia com a  leitura de “O Cavalo Branco”. Deduzi: a gravura é a mesma da lição “O Cavalo Branco”, portanto “le cheval” deve  ser  “cavalo” e “blanc” deve ser branco. 

Continuei a folhear o livro e realmente verifiquei que as figuras eram idênticas ao livro em português e que, portanto, todos os textos deveriam significar o mesmo em francês. Naquele momento fui flagrado pela professora-formanda, que me repreendeu:
- Pirralho, isso é francês e você  vai demorar  muito para  saber  o que  está  escrito  aí!
Respondi:
- Sei tudo isso que está escrito nesse livro! Imediatamente abri uma página e comecei desde o início da lição fingindo que traduzia, quando na realidade estava apenas declamando a lição em português  que, como já  disse, sabia  de cor.

A professora entrou em pânico em vista da facilidade da tradução. Chamou a freira, professora efetiva que estava na classe analisando a aula da formanda, relatando-lhe o ocorrido. Pensou que traduzi a leitura melhor do que as duas professoras. 

Fui levado para fora da classe com o livro e encaminhado à Irmã, que era a professora de francês no Colégio. Nem é preciso dizer: “traduzi” várias lições do livro, escolhidas a esmo, mas sempre começando do início, pois se me perguntassem no meio da leitura, talvez me enganasse por não saber em que parte da leitura a versão em português correspondia. 

Nos idos de 40 havia uma pequena usina hidroelétrica, cujo reservatório ficava fechado durante todo o dia para poder proporcionar luz elétrica no horário de 18 às 22 horas, pelo que não havia cinema, mas somente se  poderia divertir ouvindo as poucas estações  de  rádio  que  chegavam até  lá. 

Na minha casa havia um rádio. Tal condição de conforto e bem-estar fazia com que, por volta das 18 horas, muitos ouvintes apareciam, sem qualquer convite, para ouvirem as novelas da Rádio Nacional. Algumas de aventuras como “O Vingador”, outras de terror ou mesmo de romances que, mais tarde, se transformaram em novelas passadas na TV. 
Meu pai se orgulhava de ser proprietário do rádio Phillips holandês, que dizia ser da mais alta potência, aliás, não tão alta como a de seu proprietário, pai de 15 filhos - 12 homens e 3 mulheres.

Minha mãe era professora primária e também dava aulas particulares na parte da tarde, em nossa casa, para aqueles alunos que não conseguiam estudar sozinhos e que tinham mães que não tinham tempo de ajudar seus filhos a fazerem os deveres escolares, ou os “para-casa”, por absoluta falta de tempo, tendo em vista que  todas as famílias eram muito numerosas a ponto de se dizer que “em Itambacuri quem tem até 8 filhos é considerado solteiro”. 

Aos 5 anos comecei a me interessar em aprender a ler soletrando palavras nos jornais  ou revistas que apareciam lá em casa, o que levou minha mãe a sugerir quase "manu militari" que eu ficasse junto com seus alunos particulares aprendendo a ler, a escrever e  mesmo a fazer contas. Foi talvez uma das melhores e mais eficientes idéias de minha mãe, pois aos 6 anos já sabia ler, escrever e fazer contas, inclusive de multiplicar e de dividir. 

Na época, tinha uma memória prodigiosa e invejável a ponto de saber de cor os números  de todas as casas da cidade, o que levava as pessoas mais velhas a profetizarem: “esse menino ainda vai longe!”. Realmente fui. 

Fontes

- Informações prestadas por Marcus Vinicius Moreno Marques de Oliveira;
- Livro Missionários Capuchinhos nas antigas Catequeses Indígenas e nas sedes de Rio de Janeiro, Espírito Santo e Leste de Minas (1840 - 1997), de frei Serafim J. Pereira. Cúria Provincial dos Capuchinhos do Rio de Janeiro, 1998. Página 632.

domingo, 20 de novembro de 2011

Delza Neves

Delza de Castro Neves nasceu em Itambacuri no ano de 1936. 

Foi secretária, monitora e coordenadora regional da ACAR, Associação de Crédito e Assistência Rural de Minas Gerais, continuando suas atividades na EMATER-MG (que sucedeu a ACAR) até agosto de 1986, quando se aposentou.

Cursou parte do ensino fundamental em Itambacuri, e o concluiu num internato de freiras em Juiz de Fora, MG.

Delza começou a trabalhar na ACAR aos 19 anos de idade por ter passado num concurso público realizado em 1956.  

A Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR), fundada em Minas em 1948, era uma entidade civil sem fins lucrativos que prestava serviços de extensão rural e  ensinava pequenos produtores a elaborar projetos técnicos com vistas a obterem financiamentos.

Além de Minas, outros estados brasileiros também criaram associações similares à ACAR. Tais associações trabalhavam para introduzir no meio rural novas técnicas de agricultura, auxiliar a economia doméstica, incentivar a organização do conhecimento científico dos centros de ensino e sua aproximação aos produtores rurais.

Pouco menos de dois anos após seu ingresso na ACAR,  Delza obteve dessa associação uma bolsa de estudos para cursar Administração do Lar na Universidade Rural de Minas Gerais (UREMG), que mais tarde se tornaria Universidade Federal de Viçosa.

Os conhecimentos adquiridos em Viçosa passaram a ser postos em prática nos treinamentos e palestras  ministrados aos trabalhadores atendidos pela ACAR. Delza coordenava um setor formado somente por mulheres, responsáveis por ensinar técnicas  aplicáveis à administração e economia domésticas.

Eram ministradas oficinas de produção de conservas, doces, salgados, compotas, limpeza e higiene, aproveitamento de alimentos, produção de biscoitos caseiros e otimização de todo o tipo de recursos disponíveis nas regiões atendidas.

A ACAR procurava conhecer inovações para repassá-las aos produtores. Já na década de 60, por exemplo, ensinava como produzir leite de soja – produto que só se popularizou recentemente.

Os monitores da ACAR eram continuamente treinados em novas técnicas por meio de cursos em Minas e noutros estados, para mais e melhor difundirem tais aperfeiçoamentos no meio rural.

Delza, por exemplo, se deslocou certa vez até o Acre, onde participou de seminário para troca de informações sobre extensão rural.  Houve convite para trabalhar por lá.

No ano de 1975 a ACAR deixou de existir e suas atividades foram assumidas pela EMATER - empresa pública estadual vinculada à Secretaria de Agricultura. Os serviços que a ACAR prestava, juntamente com seu pessoal, foram incorporados pela nova instituição. Delza e outros funcionários passaram então a fazer parte dos quadros da EMATER-MG.

Os 30 anos dedicados à assistência rural trazem hoje boas lembranças e a sensação do dever cumprido – diz Delza, que se orgulha de ter contribuído para disseminar seus  conhecimentos em muitas comunidades de Minas.

Ela relembra que certa vez, já aposentada, voltando de viagem pela BR-116, viu uma barraca onde eram vendidos doces caseiros. Parou o carro e foi até lá. Viu que eram ofertadas geléias e compotas de frutas. 

Assim que a dona da barraca olhou para Delza, a identificou como uma das ministradoras dos cursos na época da EMATER, e tal reconhecimento foi uma grata surpresa para ambas.

A mulher teceu elogios e agradeceu pelo conhecimento adquirido. Aproveitou também para dizer que as técnicas aprendidas lhe serviam para gerar renda e ajudar no sustento da família.

Delza acredita que uma das missões tanto da EMATER quanto da antiga ACAR, pela qual todo o corpo de funcionários se empenhava, era mesmo a de promover a disseminação de conhecimentos práticos e úteis para benefício das famílias de regiões rurais.
 
Os conhecimentos adquiridos durante a vida profissional tiveram aplicação prática valiosa inclusive no meio onde hoje Delza vive. Ela é bastante admirada pela sua habilidade em fazer doces (especialmente compotas e doces cristalizados), licores, bordados, e culinária diversificada.

Quando se aposentou, Delza recebeu ofertas para trabalhar noutros municípios, mas preferiu morar em Itambacuri para dedicar-se com exclusividade a cuidar do Sr. Domingos e de D. Augusta, seus pais, que já estavam com idade avançada.  

Hoje em dia Delza é uma entusiasmada participante de um Grupo da Melhor Idade existente em Itambacuri, que promove eventos bastante concorridos na cidade, além de excursões pelo país afora. 

sábado, 19 de novembro de 2011

História do Colégio Santa Clara - Parte I - Madre Serafina

Introdução

Madre Serafina de Jesus
A história do Colégio Santa Clara, em Itambacuri - MG, começa na cidade de Forli, Itália, com a criação do Instituto das Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento – ICFMSS, no dia 1º de maio de 1898.

A fundadora, Madre Serafina de Jesus (nascida Francesca Farolfi), tinha sido por mais de 20 anos freira na Congregação das Irmãs de Santa Elisabeth, convento que mantinha um pequeno colégio para moças em Forli. Havia uma tendência na Itália do século XIX de abrir escolas ligadas a ordens religiosas.

Logo que entrou para o convento das franciscanas, Madre Serafina assumiu a direção da escola. A Madre tornou-se conhecida por sua personalidade forte e trato competente na criação e administração de instituições de ensino, sendo muitas vezes chamada para abrir escolas, passando depois sua administração a outrem, após consolidadas.

Como seu objetivo era sobretudo a renovação dos métodos de ensino, nem sempre eram pacíficas as relações entre Madre Serafina e seus superiores, mais ligados aos processos tradicionais.

Assim, anos mais tarde a irmã fundou o Instituto das Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento, com o firme propósito de  continuar a promover mudanças nos modos de ensinar. No dia 14 de maio de 1898 14 freiras professaram seus votos  no novo Instituto, que daí por diante  iniciou seu processo de expansão.

Madre Serafina preferia abrir escolas em regiões pobres, onde houvesse maior necessidade de assistência, mas seu grande sonho era estabelecer comunidades de missão em terras estrangeiras.  Em 1901 este sonho começou a se concretizar, quando 4 freiras partiram para uma missão na Índia.

Em 1907 outras 4 irmãs saíram da Itália para missão em país estrangeiro: o Brasil. Especificamente, em Itambacuri.

Situação no Brasil - o pedido do aldeamento de Itambacuri

Os aldeamentos, como era o caso de Itambacuri na época, normalmente deveriam ter escolas separadas para meninos e meninas, como de resto ocorria com todas as escolas do país.

Dom Joaquim
Quando visitou a região, o bispo de Diamantina – Dom Joaquim Silvério de Souza, sugeriu a frei Serafim que criasse um colégio para meninas, a ser administrado por freiras. Além da sugestão, Dom Joaquim também ofereceu ajuda financeira e logística para o empreendimento.

Para construir o colégio das meninas, os frades obtiveram do Estado a concessão de dois lotes urbanos e três rurais, totalizando uma área aproximada de 760 mil metros quadrados.

No período, frei Serafim trabalhava na construção de uma escola para meninos. Tal obra foi paralisada para que a mão-de-obra fosse utilizada no novo colégio. Em ritmo acelerado, a construção foi concluída no ano de 1906.

Desde a idéia da criação do colégio, Dom Joaquim se articulava para conseguir uma comunidade religiosa que se interessasse pelo projeto. Foi aí que a obra de Madre Serafina apareceu como solução prática e cabível para a questão.

A freira era habilidosa não apenas na criação das escolas, mas também na formação de professores. Além disso, tinha a manifesta vontade de expandir sua obra para missões em regiões carentes, como a esta altura já havia feito com a Índia.

A busca de Dom Joaquim encontrou então uma situação ideal para convidar as freiras do Santíssimo Sacramento a criar o colégio em Itambacuri. O convite foi feito por meio do Núncio Apostólico Dom Júlio Tonti, que escreveu diretamente para a fundadora do Instituto, Madre Serafina, e conseguiu convencê-la da importância do projeto.

Madre Serafina encarou o convite como uma mensagem divina e prontamente aceitou a missão. Restava agora conseguir voluntárias entre as irmãs que pudessem se interessar pelos trabalhos no Brasil.

A Madre teve papel importante também nessa fase, conversando com as irmãs de forma discreta para não influenciar diretamente em uma decisão tão importante quanto a de se deslocar para missões em terras distantes e desconhecidas. Em pouco tempo, apresentaram-se 4 voluntárias.

As 4 freiras receberam instruções e começaram os preparativos para a vinda ao Brasil. Em maio de 1907, estava tudo pronto para a partida.

Irmãs pioneiras – o embarque para o Brasil

As 4 irmãs missionárias
As freiras que se sentiram vocacionadas e aceitaram o desafio da missão foram: Benedita do Redentor (Onesta Braga), Ana dos Inocentes (Malvina Leoni), Francisca dos Santos Estigmas (Santina Gardigli) e Bernardina do Santo Nome de Jesus (Emma Baldassari).

No dia 27 de maio de 1907, as irmãs missionárias saíram da Abadia de Bertinoro, na Itália, em direção ao porto de Gênova, onde chegaram na noite do dia 28. Em Gênova fizeram os últimos preparativos para embarcar para o Brasil, já no dia 30.

Chegado o dia da partida, as missionárias foram acompanhadas por Madre Serafina e Irmã Verônica até o porto, onde embarcaram no navio Umbria, de uma companhia de navegação italiana.

A chegada ao Rio de Janeiro

A viagem do porto de Gênova até o Rio de Janeiro durou 15 dias. Assim, a 15 de junho de 1907 as freiras estavam em solo brasileiro.

No Rio de Janeiro as Irmãs Clarissas foram recebidas por frei José de Castrogiovanni, superior do Convento dos Capuchinhos do Morro do Castelo.

Navio Umbria
As irmãs permaneceram na cidade por 6 dias, ficando hospedadas com as Filhas de São Vicente, na Baía do Botafogo. Elas aproveitaram este tempo para conhecer o Rio de Janeiro e se informar sobre a realidade que encontrariam na missão.

Dentre as autoridades religiosas com quem estiveram no Rio está o cardeal Dom Joaquim Arcoverde Cavalcante (primeiro cardeal da América do Sul), que conversou com as irmãs orientado-as sobre a índole e os costumes do povo brasileiro. Além disso, o Cardeal deu a elas duas sugestões: a primeira, que redigissem um diário para as recordações da missão, e a segunda, que dessem ao colégio a ser fundado o nome de Santa Clara.

Parte brasileira da viagem: Rio de Janeiro, São Mateus, Caravelas, Filadélfia.

No dia 22 de junho retomaram a viagem para Itambacuri. Como não havia estrada de terra e nem ferrovia entre o Rio de Janeiro e o Vale do Mucuri, boa parte do trajeto foi feito pelo mar.

A primeira etapa da viagem foi feita em um navio da companhia Lloyd Brasileiro Mayrink, que seguiu pela costa brasileira até a Bahia, onde seria possível partir de trem para Minas Gerais.

Depois de 4 dias no mar (no dia 26), fizeram a primeira parada em São Mateus, no Espírito Santo. As irmãs aproveitaram para participar da missa na igreja paroquial e no dia seguinte retomaram a viagem. Dessa vez, rumo a Caravelas – Bahia.

Em Caravelas estava sendo comemorada a festa de Nossa Senhora dos Navegantes. O barco então ficou parado por 2 dias em virtude dos festejos. As irmãs não desembarcaram, acompanhando apenas ao que foi possível ver do barco.

A parte final da viagem deu-se no dia 1º de julho, já em Ponta de Areia, Bahia, onde as irmãs pegaram um trem para Filadélfia (hoje Teófilo Otoni).

De Filadélfia a Itambacuri – último trecho

No dia 2 de julho, às 4 da tarde, as irmãs chegaram a Filadélfia, onde algumas pessoas as aguardavam. Ficaram hospedadas na casa do coronel Senna e no dia seguinte cumpririam a última parte da viagem: percorrer a cavalo os 38 quilômetros que separavam Itambacuri de Filadélfia.

As irmãs foram acompanhadas por dois frades e uma comitiva de 30 pessoas. Durante o trajeto muita gente se juntou ao grupo, que chegando a Itambacuri contava quase cem cavaleiros.

O cortejo chegou à cidade no dia 3 de julho de 1907. Os fundadores, frei Serafim e frei Ângelo, aguardavam as missionárias.

As freiras foram recebidas com festa, foguetes, repicar de sinos e banda de música. Conta-se que esta foi a primeira apresentação de banda de música de que se tem registro em Itambacuri.

Além disso, o percurso até a casa que abrigaria as irmãs e o colégio estava enfeitado com flores, bananeiras e bandeirinhas.

Já no dia seguinte as irmãs participaram da primeira missa realizada na capela do pequeno convento, celebrada por frei José de Castrogiovanni.

As missionárias, saídas da Itália, orientadas por Madre Serafina, continuaram a receber saudações de boas-vindas por vários dias. A esperança com a qual foram recebidas partia de uma comunidade cheia de dificuldades, que via nas irmãs uma possibilidade de melhoria nas condições de vida.

Missão estabelecida 

As irmãs vieram ao Brasil com uma missão clara: abrir um colégio para educação de crianças indígenas órfãs e para as crianças filhas dos não-índios que estavam estabelecidos na região. 

Colégio Santa Clara.
A incumbência de organizar os primeiros trabalhos e dirigir o colégio ficou a cargo da superiora irmã Bernardina.

O trabalho das Clarissas Missionárias na educação dava-se da seguinte forma: instrução na catequese, ensino de trabalhos artesanais, e educação escolar sistemática.

Estas atividades, que foram implementadas e aperfeiçoadas no Santa Clara, serão abordadas no próximo texto: História do Colégio Santa Clara – Parte II, que será publicado em breve.

Referências

- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. 3ª Edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo - 1973.
- RODRIGUES, Carmem. Missão no Brasil das Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento. Telecart. Belo Horizonte - 2003.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Professor Mendonça

José Vicente de Mendonça (Rio Vermelho, 19 de julho de 1897 – Itambacuri, 19 de junho de 1965) foi um professor, escritor e jornalista mineiro.

Trajetória: Rio Vermelho, Diamantina e Belo Horizonte

José Vicente de Mendonça nasceu na cidade de Rio Vermelho, interior do estado, no dia 19 de julho de 1897. Seus pais eram Eustáquio Fernandes Mendonça e Idalina Rosa de Jesus.

Ingressou na escola primária no ano de 1903. Em 1908, após terminar o curso, foi para o Seminário Episcopal de Diamantina, onde ficou por 3 anos e concluiu o colegial. Foi colega de classe do general Olímpio Mourão Filho e contemporâneo do ex-presidente Juscelino Kubitschek.

Depois deste período, deu seqüência aos estudos em Belo Horizonte no Instituto Claret (hoje Colégio Claretiano Dom Cabral), sob a direção dos padres Salesianos. Ao término dos estudos na capital, voltou para Rio Vermelho.

Na cidade, trabalhou como professor em escola primária. Foi o criador do jornal “O Rio Vermelho”. Em 1914, fundou a Biblioteca Pública Padre Câmara.

Sempre envolvido em atividades culturais, o professor era também poeta e fundou o Grêmio Literário em junho de 1917. Neste mesmo ano, no dia 26 de agosto, foi encenada a primeira peça teatral escrita por ele.

É o autor da letra do hino da cidade de Rio Vermelho e escreveu um livro intitulado Minha Terra.

No dia 21 de abril de 1918 casou-se com Raimunda Augusta da Cunha, com quem teve os filhos Antônio Augusto de Mendonça (Tó de Mendonça) e Maria Aparecida da Cunha Mendonça

Em 1920 fundou o Clube Tiradentes. Criou a Comissão Pró-Vida em Rio Vermelho e a Comissão Pró-Distrito em Serra Azul de Minas.


Itambacuri

Professor José Vicente de Mendonça chegou a Itambacuri no ano de 1924, a convite de Dr. Pedro Autran - então chefe do executivo municipal. O objetivo era que ele ajudasse na organização jurídica e administrativa do recém-criado município.

Tornou-se o primeiro funcionário nomeado para a Câmara Municipal, através da Portaria nº 01 de 18 de maio de 1924. Em seguida, foi nomeado membro do Conselho Escolar – Diretor da Secretaria da Câmara e Professor.

No ano de 1925 foi para a cidade de Paulistas, onde trabalhou como professor e farmacêutico, voltando para Itambacuri em 1926.

Professor Mendonça trabalhou por mais de 15 anos no Colégio Santa Clara, onde lecionou Português, Latim, Francês e História. Além do magistério, atuou em várias outras áreas – incluindo participações importantes na administração da cidade. 
Prof. Mendonça no Colégio Santa Clara.
Era também músico, foi Sub-Coletor, Escrivão de Paz e Tabelião de Notas. Foi presidente da primeira mesa preparadora para a fundação da União Operária de Itambacuri e secretário da Junta de Alistamento Militar.

Foi o fundador dos jornais O Itambacuri e A Sentinela. O primeiro circulou quinzenalmente entre 1927 e 1938, sendo o único veículo noticioso da cidade na época. Anos depois, o jornalista Guira Marques retomou a produção do jornal. Já A Sentinela começou a circular a partir de 1º de março de 1951 e teve curta duração. Foi criado com o apoio de Ildeu Esteves Guedes e Serafim Ângelo da Silva Pereira.

Presidiu a Terceira Diretoria da Conferência Vicentina Nossa Senhora dos Anjos, cargo que exerceu de 6 de março de 1927 a 19 de junho de 1949.

O professor José Vicente de Mendonça faleceu no dia 19 de junho de 1965, aos 67 anos. 

Homenagens

Uma das homenagens ao Professor Mendonça foi prestada através da lei nº 54/61, de 11 de julho de 1961, que deu seu nome a uma rua de Itambacuri. A proposta foi apresentada pelo prefeito Dr. Firmato, na primeira gestão. Informalmente a via também é conhecida como “Rua das Sete Casas”.

O antigo Ginásio também registrava uma homenagem. Tinha o nome de Pio XII, mas depois passou a ser Escola Estadual Professor José Vicente de Mendonça. No entanto o Ginásio foi fechado há alguns anos, dando lugar a uma escola particular.

Fontes

- Jornal O Itambacuri, Ano I, edição nº 3, de 11 de outubro de 1978.
- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Itambacuri e Sua História – Volume II. Edição Independente. Belo Horizonte, 1991.
- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Itambacuri e Sua História – Volume III. Líthera Maciel Editora Gráfica Ltda. Contagem, 1999.
- Revista Itambacury Ano 100. Edição comemorativa independente. Itambacuri, 1973.
- Benfeitores de Rio Vermelho. Página da Prefeitura Municipal de Rio Vermelho.
Disponível em: http://www.pmriovermelhomg.com.br/index.php?pg=historia&pgn=4. Visitado no dia 8 de novembro de 2011.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Paulão

Paulo César Batista dos Santos, o Paulão, é um ex-futebolista brasileiro. É o único itambacuriense que já jogou pela Seleção Brasileira de Futebol.

Nasceu no dia 25 de março de 1967. Seus pais são Manoel José Batista e Maria Ferreira Batista. A família tinha um restaurante bastante conhecido na cidade e dona Maria, mãe de Paulão, era a cozinheira responsável pelo preparo de pratos típicos.
 

Início da carreira

Paulão iniciou sua carreira no time do Vitória, em Itambacuri. Em 1983, o Vitória disputou em casa uma partida comemorativa contra o Cruzeiro. Paulão chegou a marcar gol e foi um dos destaques do jogo.

Percebendo as habilidades do rapaz, a equipe técnica do Cruzeiro fez um convite para que ele se juntasse ao time e fosse treinar em Belo Horizonte. Na época, Paulão tinha apenas 16 anos e trabalhava no restaurante da família. Muito apegado aos parentes, acabou recusando o convite.

No Cruzeiro

Tempos depois, resolveu tentar a sorte no clube que o despertara para a possibilidade de se tornar profissional. Assim, em 1985 Paulão estava nas categorias de base do Cruzeiro, onde ficou por 3 anos.
Em 1988, foi emprestado ao América do Recife, time que disputava a segunda divisão do campeonato local.

Com boas atuações, Paulão chegou a ser artilheiro do campeonato, ajudando o time a subir para a categoria principal. Após a passagem pelo América, voltou para o Cruzeiro em agosto de 1988.

Paulão era um zagueiro central com características importantes: marcava bem; tinha boa cobertura; ótima impulsão – o que lhe ajudava a marcar gols de cabeça; e chutava forte, tornando-se batedor de faltas em várias situações. Além disso, era considerado um jogador “raçudo”, porém disciplinado.

Disputou 114 partidas pelo Cruzeiro, saindo apenas no segundo semestre do ano de 1992. Suas principais conquistas no clube foram o Campeonato Mineiro de 1990 e a Supercopa dos Campeões da Libertadores da América, em 1991.

Paulão jogou também pelo Grêmio, Vasco e Benfica (Portugal).

Na Seleção

Quadro de convocados para a Seleção em 1990
Jogando pelo Cruzeiro, Paulão foi convocado pelo técnico Paulo Roberto Falcão, em 1990, para integrar a Seleção Brasileira. Estreou em um amistoso contra a Espanha no dia 12 de setembro do mesmo ano. Na época, o ex-treinador do Cruzeiro, Adílson Batista, também era jogador da seleção.

No total, Paulão disputou 8 partidas com a camisa amarelinha, sendo 7 enquanto jogador do Cruzeiro. Também entrou em campo na partida comemorativa dos 50 anos de Pelé, em Milão, na Itália.

Paulão integra a lista dos jogadores cruzeirenses que mais vezes entraram em campo pela Seleção Brasileira na década de 90, ficando atrás apenas do goleiro Dida (15 partidas) e do lateral direito Evanílson (8 partidas).


 Na comissão técnica

Paulão retornou para o Cruzeiro em 2007, como auxiliar do técnico Dorival Júnior. Ficou no cargo até a chegada do treinador Adílson Batista. Em seguida, foi exercer a mesma função no time do Vila Nova, em Nova Lima.

Homenagem

Foto da partida realizada pelo time de veteranos do Vitória em homenagem a Paulão
Em pé: Carlim (goleiro), Paulão, Zé Maria, Pregador, Gerinha Magalhães e Mauro.
Agachados: Jaime, Neném, Roberto de Zé de Adão, Gerinha e Cezinha.
 

sábado, 22 de outubro de 2011

Dr. Firmato

Antonio Firmato de Almeida (Canavieiras, 15 de agosto de 1900 – Belo Horizonte, 30 de janeiro de 1992) foi um médico e político que fez carreira em Itambacuri.

Ajudou a controlar uma epidemia de doenças tropicais que assolavam a região de Itambacuri e atuou na elaboração de importantes estudos científicos sobre tais doenças.

Foi o único prefeito eleito por três mandatos na cidade.


História

Antonio Firmato de Almeida nasceu na fazenda Seis Irmãos, próximo à cidade de Canavieiras, na Bahia. Seus pais, Manoel Firmato de Almeida e Francisca de Deus Almeida, faleceram quando ele tinha 10 anos de idade. Firmato e os irmãos passaram então aos cuidados do tio Melquíades.

Melquíades colocou os sobrinhos na Escola Primária em Canavieiras. Firmato concluiu os estudos nessa escola aos 14 anos de idade, mas foi trabalhar com o tio na roça. Anos depois, Melquíades convidou-o para retomar os estudos. Ele aceitou e foi para um colégio interno em Salvador – BA.

Ao fim do curso preparatório, Firmato ingressou na Faculdade de Medicina de Salvador. Formou-se médico, diplomado no dia 8 de dezembro de 1926, aos 26 anos, defendendo tese (então pré-requisito para o exercício da medicina) sobre a Doença de Nicolas-Favre.

Início da carreira

Começou sua carreira profissional em Canavieiras, substituindo um colega que havia entrado em férias. Ao final do período, mudou-se para Jequitinhonha. Dr. Firmato sonhava trabalhar em São Paulo e veio traçando um caminho sempre rumo ao sul. De Jequitinhonha foi para Araçuaí.

Em Araçuaí foi vitimado por uma grande enchente no ano de 1927, na qual perdeu tudo o que tinha. A cheia do rio Araçuaí arrasou toda a cidade. De Araçuaí seguiu então para Teófilo Otoni, de onde iria telegrafar à família para pedir dinheiro para comprar algumas roupas e continuar viagem.

Para chegar a São Paulo precisaria pegar o trem na Estrada de Ferro Bahia-Minas, em Teófilo Otoni, até a cidade de Caravelas, no sul da Bahia. Então deveria seguir de navio para a cidade de Santos, já no estado de São Paulo.

Chegada a Itambacuri

Nesse período, Itambacuri tinha aproximadamente 2 mil habitantes. Não existia rede de distribuição de água nem energia elétrica e havia muitos problemas de cunho estrutural. Além disso, uma séria epidemia de tifo e outras doenças tropicais castigavam a região.

Itambacuri não tinha médico, ficando a saúde a cargo dos farmacêuticos João Antonio e Joviano Antonio da Silva Pereira. A população, assustada com a epidemia, exigia um profissional da medicina. Os farmacêuticos foram então a Teófilo Otoni para tentar resolver a situação.

Por indicação de conhecidos em Itambacuri, eles chegaram ao Dr. Firmato com a missão de convencê-lo a aceitar o convite de ir para a cidade. Dr. Firmato não aceitou de imediato. Para tentar convencê-lo, fizeram uma oferta para que ele fosse, em princípio, apenas para ajudar a controlar a epidemia. Depois disso ele seguiria para São Paulo, podendo realizar seu sonho com a missão cumprida. Dessa forma, Dr. Firmato chegou a Itambacuri no dia 13 de Fevereiro de 1928.

Medicina e Pesquisa

Chegando na cidade, Dr. Firmato encontrou um cenário preocupante envolvendo doenças tropicais. As moléstias mais comuns eram: bouba, malária, tifo e leishmaniose. Além dessas, algumas verminoses também tinham grande incidência, como a esquistossomose.

O médico ajudou a controlar a epidemia e fez mais do que isso. Conseguiu chamar a atenção de autoridades sanitárias e políticos da época para a situação da saúde na região, fazendo com que Itambacuri fosse cenário de estudos premiados internacionalmente.

Entre os serviços de pesquisa realizados está a organização de um fichário onde ele registrou mais de 5 mil casos observados em sua clínica, com fotografias e anotações sobre as referidas doenças.

Com a atuação de Dr. Firmato, seus relatórios e correspondências, a situação do município foi chamando a atenção em grandes centros como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, atraindo também os olhares da comunidade científica de outros países.

Pesquisadores como o peruano Hugo Pesce, professor de Dermatologia na Universidade de Lima; e Percy C. C. Garnham, professor de Medicina Tropical da Universidade de Londres, viajaram à Itambacuri para aprofundar seus conhecimentos.

No ano de 1967, o cientista sueco Dr. Sven Christiansen esteve na região, como representante da Organização Mundial de Saúde, para pesquisar sobre a bouba. O cientista constatou a erradicação total da doença em terras mineiras. Na época, o Dr. Christiansen foi auxiliado por profissionais locais da saúde, como o laboratorista José Marques de Oliveira.

Além desses, professores das Universidades Federais de Minas Gerais, São Paulo e de outros estados estiveram pela região. Entre eles, Amílcar Vianna Martins (Parasitologia), Oswaldo Costa (Dermatologia), Josefino Aleixo (Leprologia), Mauro Pereira Barreto (Parasitologia), Dr. Oliveira Castro (Biologia), o malariologista José Pelegrino, e os microbiologistas José Aroeira e Dr. César Pinto - do Instituto Instituto Oswaldo Cruz.

Dr. Firmato foi um importante colaborador do Dr. César Pinto na elaboração de um estudo de 247 páginas sobre vários subtipos de esquistossomose. A obra foi condensada pelo cientista inglês H. Harold Scott no volume 47 do Tropical Diseases Bulletin, editado em Londres no ano de 1950.

Vida Política

Com o prestígio adquirido como médico ativista nas áreas política e social, Dr. Firmato acabou entrando para a vida pública. Foi o único eleito por 3 vezes prefeito de Itambacuri.

Antes disso, foi indicado ao cargo durante a ditadura da Era Vargas, mas se recusou a tomar posse nessa condição. Candidatou-se pela primeira vez nas eleições de 1954, mas não conseguiu se eleger. Dr. Firmato foi prefeito nas gestões: 1959 – 1963, 1967 – 1971, 1973 – 1977.
Em pé: Dr. José Vasconcellos e Dr. Firmato. Sentados: padre Vidigal e o presidente JK.
Algumas realizações

Instalou, no ano de 1930, o primeiro Posto de Saúde e Higiene de Itambacuri, incluindo a cidade nos planos de melhoramentos do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). O feito, que se realizou durante a gestão de Dr. Vital e com o auxílio do vereador Wilson Lago Pinheiro, foi considerado uma grande conquista pelo fato da cidade não estar incluída nos planos do convênio com o SESP. O Posto foi ampliado no ano de 1962, já na gestão de Dr. Firmato.

Trabalhando em conjunto com o prefeito Dr. Vital, conseguiu mudar para a cachoeira do rio Poquim a rede condutora de água utilizada no consumo urbano. Posteriormente, em seu governo, inaugurou a Estação de Tratamento de Água, sob direção do SESP.

Nas suas administrações foram fundados o Grupo Educacional Prof. Tangrins e o Grupo Educacional de São José do Fortuna. Construiu o Mercado Municipal, a praça Farmacêutico João Antônio, a praça Tenente Lages e ampliou a rede elétrica urbana. Foi Diretor do Hospital São Vicente de Paula por mais de 20 anos. Construiu a Cadeia Municipal e remodelou o Aprendizado Carlos Prates. Várias outras conquistas aconteceram sob sua influência ou diretamente nas suas administrações.

Referências bibliográficas / Links para outras páginas

- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. 3ª Edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo - 1973.

- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Homenagem do povo de Itambacuri ao ilustre amigo Dr. Firmato. Edição Independente. Itambacuri - 1990.

- Revista Itambacury Ano 100. Edição Comemorativa Independente - 1973.

- VIDIGAL, Pedro Maciel. Ação Política Volume II – Memorial. Editora Del Rey. Belo Horizonte - 1997.

- Palavras com links para ligações a outras páginas: Canavieiras, Belo Horizonte, doenças tropicais, Doença de Nicolas-Favre, Estrada de Ferro Bahia-Minas, Instituto Oswaldo Cruz, Era Vargas.

Sebastião Lopes

Sebastião Campos Lopes (Itambacuri - 1935) é um advogado itambacuriense.

Durante sua carreira, recebeu homenagens como a Medalha Desembargador Hélio Costa, pelos serviços prestados à Comarca; o título de Vicentino Benemérito, pelo apoio à Sociedade São Vicente de Paulo; e a Condecoração de Honra do Grande Oriente, oferecida pela Maçonaria.

História

Sebastião Campos Lopes, ou simplesmente Bá Lopes, como é conhecido, é o oitavo filho de uma família de 14 irmãos. Seus pais são Joaquim Lopes da Silva e Rita de Campos Neves.
 
O pai, Joaquim Lopes, foi um importante trabalhador na área da saúde, sendo um dos auxiliares do médico e prefeito Dr. Firmato no tratamento das endemias que acometiam Itambacuri. A mãe, Rita, era cozinheira das mais requisitadas, produzindo encomendas constantes para diversas famílias da cidade.

Estudos

Bá Lopes estudou até o terceiro ano primário no Grupo Escolar Frei Gaspar de Módica, em Itambacuri. Em 1949 mudou-se para Santa Tereza (ES) para seguir os estudos no Seminário Seráfico São Francisco de Assis, onde ficou até o final do ano de 1950. 

Em seguida, voltou a Itambacuri para terminar o ginásio no seminário local. De volta a cidade, Bá Lopes segue nas rotinas de um jovem estudante, com as obrigações e privações comuns aos integrantes do seminário.

Já em 1954, vai para Taubaté (SP) para fazer o noviciado na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Nestes tempos, era chamado de Frei Joaquim de Itambacuri. Concluída mais esta etapa, voltou para a terra natal onde  ingressou no curso de Filosofia, concluindo os estudos em 1957.

Após o curso de Filosofia, Bá Lopes deixou a vida religiosa e mudou-se para Belo Horizonte. Na capital, foi trabalhar em um escritório de representação. Após esta experiência, mudou de emprego, indo para o banco Bradesco. Em 1961 resolve voltar para Itambacuri, onde sua família tinha uma torrefação. Bá Lopes passa então a ajudar na administração dos negócios de família, cuidando do Café Montenegro e da Churrascaria Montenegro.

O Advogado

Na época, havia pouca opção de estudo no interior do estado. Quando foi aberta a primeira faculdade de Direito da região, a Fenord, Bá Lopes foi instado a prestar vestibular. A esta altura, foi grande o incentivo do amigo Frei Agostinho, que deu todo apoio para que ele participasse do concurso.

Bá Lopes temia pela concorrência, pois já estava afastado dos estudos há 17 anos. Como argumento para que fizesse as provas, Frei Agostinho falou sobre a bagagem cultural que se adquire estudando em colégios de formação religiosa, o que daria ao candidato nível mais que suficiente para concorrer no certame.

Sendo assim, prestou o vestibular e foi aprovado para o curso de Direito, comprovando que os estudos da época do seminário realmente fizeram diferença.

No ano de 1970, Sebastião Campos Lopes começa sua jornada para se tornar advogado. Durante a faculdade, o estudante enfrentou percalços. Precisou terminar o curso na cidade de Governador Valadares, onde concluiu os estudos em 1975, já com 40 anos de idade, casado e com família. Diplomado, voltou para Itambacuri e abriu um escritório de advocacia.

Bá Lopes destaca a grande dificuldade que era poder estudar no seu tempo. Vindo de família pobre, a opção entre estudo e trabalho tinha um rumo orientando às satisfações imediatas de qualquer família naquelas condições: era preciso gerar dinheiro para matar a fome, para pagar as contas e seguir adiante. A opção de estudo, para muitos de seu tempo, era mesmo ingressar em Ordem Religiosa e, posteriormente, se fosse o caso, tomar outro caminho.

Homenagens 

Suas realizações vão além do campo pessoal. Profissional respeitado na região, no ano de 2007 Bá Lopes foi condecorado com a medalha Desembargador Hélio Costa. A homenagem é concedida desde 1995 pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG)  a pessoas que prestam relevantes serviços ao Poder Judiciário.

Bá Lopes foi voluntário na Conferência Vicentina de Itambacuri entre os anos de 1980 e 1995, realizando vários serviços nesse período.

Podem-se destacar as atividades administrativas e conseqüentes melhorias durante sua assistência na gestão do Hospital São Vicente de Paulo. Pelos trabalhos, recebeu dos confrades o título de Vicentino Benemérito.

Em 1984 ingressou na Maçonaria, onde foi por duas vezes Venerável Mestre, Orador por três vezes e Secretário por outras três vezes. A sete de julho de 2011, recebeu a condecoração de honra do Grande Oriente de Minas Gerais, em virtude dos seus feitos.

Atualmente, Bá Lopes encontra-se afastado das atividades da Maçonaria, mas é freqüente em seu escritório.

Fontes e Links

- J. PEREIRA, Serafim. Missionários Capuchinhos nas antigas Catequeses Indígenas e nas sedes de Rio de Janeiro, Espírito Santo e Leste de Minas (1840 – 1997). Cúria Provincial dos Capuchinhos do Rio de Janeiro – 1998. Página 623.

- Informações da página da Associação dos Magistrados Mineiros – AMAGIS, disponíveis em:

http://www.amagis.com.br/home/index.php?option=com_content&task=view&id=678&Itemid=127

- Informações do site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais - TJMG, disponíveis em:

http://www.tjmg.jus.br/info/pdf/?uri=/servicos/cerimonial/agraciados_medalha_2007.pdf

- Entrevista realizada com Bá Lopes, no seu escritório, em setembro de 2011.
- Palavras ou expressões com links para textos complementares: Dr. Firmato, endemias, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, Maçonaria.

Domingos Pacó

Domingos Ramos Pacó (Itambacuri – 1867, Campanário – 1935) foi um intérprete e professor indígena bilíngüe.

Foi o primeiro professor indígena do aldeamento de Itambacuri. No seu legado, merece destaque a elaboração de um manuscrito onde ele apresenta um parecer sobre a origem das cidades de Itambacuri e Igreja Nova (atual Campanário).

História

Domingos Pacó é filho de Félix Ramos da Cruz e Umbelina Ramos da Cruz. O pai, Félix, já se encontrava estabelecido na região onde hoje é Itambacuri antes mesmo da chegada dos padres fundadores da cidade. A mãe, Umbelina, era uma índia filha do Capitão Pahóc.

Capitão Pahóc

Capitão Pahóc foi um chefe indígena que teve grande importância para o sucesso do aldeamento de Itambacuri. A missão dos fundadores não teria sido possível sem a negociação e conquista do apoio das lideranças indígenas que estavam sob o comando de Pahóc.

O grupo sob sua liderança era formado por 800 guerreiros, além de outros 100 homens localizados em regiões de limites, em pontos estratégicos, para a defesa contra possíveis incursões de inimigos.

Pahóc costumava se relacionar com os não-índios. Nessas ocasiões era acompanhado por um número considerável de membros da tribo e do língua (intérprete) Félix Ramos da Cruz – com quem já havia estabelecido parceria antes mesmo da chegada dos fundadores.

Félix Ramos da Cruz

Félix Ramos da Cruz tinha relações de amizade com o Capitão Pahóc e era um grande conhecedor da região. Além disso, era também um importante língua. Os línguas gozavam de reconhecido prestígio, advindo de sua habilidade em intermediar, por meio de simultânea tradução oral, aquela que era considerada uma difícil (e às vezes perigosa) comunicação entre indivíduos de diferentes culturas.

Os línguas não dispunham de livros para a aprendizagem do idioma, até porque, ao que se sabe, o primeiro registro do falar daqueles índios foi publicado apenas em 1909, na Alemanha, graças ao esforço de Bruno Rudolph - imigrante que elaborou dicionário em alemão da língua botocuda. Assim, a comunicação com os índios era orientada tão somente pelo esforço constante e habilidade dos línguas.

Félix casou-se com Umbelina, uma índia filha do Capitão Pahóc. A união inaugurou o livro de registros dos diretores do aldeamento, sendo o primeiro casamento oficializado em Itambacuri pelos fundadores Frei Serafim e Frei Ângelo, um ano após instalada a missão.
Dessa forma, Félix reunia não apenas a figura de um “nacional” que guardava profundos conhecimentos sobre a região e domínio da comunicação com os índios, mas também representava um elo ainda mais importante no trato de confiança com estes, sendo um importante mediador político.

Do relacionamento de Félix com Umbelina nasceu Domingos Ramos Pacó.

O Professor

Domingos Pacó foi o primeiro professor de origem indígena da região do aldeamento de Itambacuri.

Pacó foi alfabetizado pelos padres fundadores (diretores do aldeamento) e atuava como sacristão. Em seguida passou a exercer o cargo público de secretário, ecônomo e professor. Recebeu o título do magistério a 3 de janeiro de 1882, iniciando imediatamente suas atividades. Na época, Pacó tinha apenas 15 anos de idade.

O professor Pacó lecionava para filhos de indígenas e de não-indígenas em uma escola feita de pau a pique – localizada nas proximidades do convento da cidade.  Permaneceu no cargo por 19 anos, até ser substituído, em 1901, pelo professor Manuel Pereira Tangrins.

Manuel Pereira era um músico casado com uma índia. A alcunha Tangrins, que lhe foi dada pelos índios e é apresentada como sobrenome, significa “músico” na língua dos nativos.

A substituição de Pacó teria sido motivada pela negligência com o cargo. O professor havia se tornado alcoólatra, o que comprometia, além da saúde, as atividades como educador. Além disso, pode-se inferir que a demissão do professor tenha se imposto sob um novo conjunto de regras relativas à administração escolar dos índios, adotada nos primórdios da República pelos diretores da então colônia indígena.

O Manuscrito de Pacó

Uma das realizações de Domingos Ramos Pacó foi a redação de um manuscrito de grande valor histórico, considerado um dos raros documentos escritos por um índio brasileiro no século XIX.

O trabalho é apresentado em 22 páginas de papel almaço, redigido com bela caligrafia, e apresenta, entre outras impressões, uma visão particular sobre a origem das cidades de Itambacuri e Igreja Nova. A obra é intitulada “Pequena narração ou origem de como foi descoberto o Itambacuri – 1873”.

O manuscrito apresenta notícias históricas e é também interessante pelo expresso amor à raça e língua indígenas, contendo várias passagens escritas no idioma original de Pacó. Em uma dessas passagens, Pacó traça um auto-retrato e se coloca entre os primeiros professores de Itambacuri.

Ele fala também sobre os padres fundadores afirmando que eles, conhecendo sua inteligência e aproveitamento nas letras, pediram ao Governo Provincial autorização para incluí-lo no ensino do aldeamento indígena de Itambacuri.

Pacó aproveita para registrar que sua escola chegou a ter o maior número de matrículas de filhos de indígenas. No texto, também fica clara a mágoa com ex-alunos que tiveram com ele “conhecimentos úteis a respeito da instrução primária e, agora que ocupam cargos, sentem vergonha de dizer que foram educados por um professor indígena”. E segue, reprovando os que se envergonham da descendência indígena.

No seu relato, Pacó descreve uma visão da selva diferente da dos colonizadores. Para ele, a selva era um local de recreação, idéia que contrasta com os medos e perigos descritos pelos missionários. Pacó ressaltava que todos aqueles córregos, rios e serras já possuíam um nome em língua indígena antes mesmo da chegada dos colonizadores.

Segundo Izabel Missagia de Mattos, a memória da fundação da missão em Itambacuri, escrita pelo professor, pode ser lida não apenas como crítica, mas, no limite, como uma verdadeira denúncia da pedagogia excludente e da invisibilidade gerada sobre a participação do indígena no trabalho realizado pelos capuchinhos.

Fim da vida

Após deixar o magistério, Pacó retirou-se para as matas. Tempos depois, mudou-se para Igreja Nova (atual Campanário) onde, a pedido de moradores, chegou a abrir uma escola e lecionar.

Pacó foi casado com uma indígena de nome Zulmira Jupeti, com quem teve filhos.
O professor bilíngüe, figura de importância além da história itambacuriense, viveu seus últimos anos na cidade de Campanário, onde faleceu no ano de 1935.

Referências bibliográficas

- MATTOS, Izabel Missagia de. Civilização e Revolta – Os Botocudos e a Catequese na Província de Minas. EDUSC. Bauru – 2003.
- MATTOS, Izabel Missagia de. Domingos Ramos Pacó, professor bilíngüe e intérprete do aldeamento missionário do Itambacuri, MG. XXIV Simpósio Nacional de História, São Leopoldo - 2007. Seminário Temático Os Índios na História: Fontes e Problemas.
- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. 3ª Edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo - 1973.
- BRASILEIRO, Danielle Moreira. O Aldeamento Indígena Nossa Senhora dos Anjos -
PACÓ: Memória e indigenismo no Vale do Mucuri – MG. Associação Nacional de História – ANPUH. XXIV Simpósio Nacional de História. São Leopoldo – 2007.